quarta-feira, 1 de junho de 2011

Eu, naquele tempo, grávida

Eu fiquei algumas tardes de inverno sozinha dentro de casa.


Gravidinha, eu pegava as roupas secas, uma a uma, e passava no ferro a vapor.

Guardava aquelas roupinhas na cômoda clara que comprei para a menininha que iria chegar.

Eu as organizava minuciosamente para que coubessem.

As roupas vieram de pessoas que gostavam de mim.Poucas eu comprei. Eu estava falida economicamente.

Meu pai me levava produtos de limpeza, alimentos, coisas para minha casa.

A mãe me levava frutas todas as semanas.

A Paula, me trazia carne todas as semanas e sempre tinha o cuidado de observar se eu precisava de algo.

A tia Janete, me trazia outras frescuras e trocava idéias comigo.

A Ceres, bem,não vou dizer que ela não fazia o melhor que podia, mas sogras,são sempre sogras.

As amigas da tia Janete, fizeram uma reunião em seu clube de crochê afim de confeccionarem roupinhas para a menina.

Fizeram casacos fofos, tocas, sapatinhos, mantinhas - tudo que se pode fazer.

A menina ia se chamar Alice?Clarissa?

Emilia? Lorena? Anita? Loren?Cecília? Claire?

Todos nomes de mulheres importantes para mim, escritoras, professoras, amigas, personagens que eu admirava.

Se chamou Paola.

Eu passava aquelas roupinhas e organizava aqueles brinquedos nas prateleiras que fiz.

Prateleiras com topes rosa.

Nas minhas tardes de verão, eu estive com meu macacão curto com a barriga grande aparecendo as laterais .

Ou senão estava com aquele vestidinho curto de listras coloridas muito chamativo que ganhei da Clair;

Ou usava aquele vestidinho amarelo cocô-de-criança que havia sido da minha tia.

Caminhava entre o varal lá fora e a máquina de lavar ali dentro.

Cozinhava leite de soja caseiro que eu vivia tendo desejo deste tipo de leite e fazia panquecas.

Lavava calçados, tirava o pó dos móveis, em dias quentes, lavava vidros.

Batia os tapetes, organizava os guarda-roupas e lia.

Ouvia músicas de todos os tipos, bordava toalhinhas para o bebê, tricotava um tapete infantil de girafa.

Eu modelava mini-sapatinhos de bebê que seriam as lembrancinhas para as visitas no hospital.

Modelei 60 parezinhos em massa de biscuit.

A criança chegou, eu trocava fraldinhas, enrolava paninhos de flanela, cobertorezinhos.

Dava banhos super cuidadosos em chás quentinhos de camomila.

Massageava o bebê com óleos especiais para isso, ouvia cds de músicas tranquilizantes.

Comi somente legumes e frango e em 10 dias havia perdido os 10 kg da gravidez.

Eu orava no meu pensamento, na verdade, eu cantava hinos em silencio e me transportava em meditação a lugares de paz que eu estivera em momentos anteriores.

A música me acalmava.

Porque eu estava sozinha com meu bebê em casa.

E o Papai do Céu cuidou da gente.

Eu escrevi muitas cartas neste tempo.

Muitas, coloquei fora.

Elas foram todas para ele.

Eu repartia o que sentia naquelas cartas.

Eu repartia o que esperava, o que sonhava para mim, para o bebê, para o papai.

Pobre papai!!

Vive a vida assim, tão sem rumo certo.

É certo que ainda o amo.

Ele vive em minhas orações, vive em meus sonhos, nunca morre.

Gosto dele.

A Lola também, gosta muito. Temos muito carinho por ele.

Um dia, tudo será diferente.

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