quarta-feira, 18 de maio de 2011

Futibas

No tempo do campinho de futebol de areia ali no Santa Fé


Eu era uma lincezinha de moral, de cheia de si, de marra, ninguém dizia que viraria mulher mesmo, hetero.

17:30 batia o sinal pra sair da escola.

Eu nem sei como, mas 17:31 eu tava lá no bico do morro, vendo os outros colegas pequenininhos para trás, ainda saindo do portão da Escola.

Eu chegava nas tardes de verão na areia branca, no campinho ainda vazio.

Não lembro onde ficava a bola, só me vem na memória os momentos que eu ficava batendo bola até o restante da galera chegar.

Eu usava uma bermuda azul marinho desses tecidos de colégio, um dedo pra cima do joelho, bem solta.

Bem de guri.

Eu usava camiseta da escola,branca com logo da sigla EMIB (Escola Municipal Ilda Barazzetti).

Eu usava meias de futebol brancas, empurradas para baixo, ficavam fofinhas com tênis qualquer que não me lembro, mas não devia destoar da roupa colegial - que sempre fui pobre, mas preocupada com não cometer discrepâncias graves nas combinações...srrs

Naquele campinho de areia, haviam telas altas de metal pra bola não fugir muito longe.

17:50 - por aí...- bombava de gurizadinha!Tinha bem mais menino do que menina, mas eu tava lá, cheia de vontade.

Sol alto ainda, sempre se faziam os times de gurias com meninos mais velhos (dois somente) no gol de cada time - para equilibrar, que não é de hoje que não se consegue completar times somente com meninas, em dias normais sem ninguém marcar nada. Esportes com os pés no Brasil são bem mais aderidos pela ala masculina - a gente sabe!

Eu me sobressaía, me orgulhava da minha virtude, do meu futebol de campinho, do meu jeito de piá que a mãe tanto criticava...

Era o futebol de campinho que me dava auto-estima, popularidade que gurizadinha de periferia sabe bem o que é.

Cada drible mais ousado era acompanhado por um coro de piás mais velhos que ficavam no lado de fora da tela "Bahhhhhh"...."Ohhhhhh"...

Eu sempre disfarçava que aquilo não enchia meu ego, nunca gostei de gente que se acha muito, que conta de si, que abraça elogios e os completa com mais algum.

Mas eu gostava muito da emoção da torcidinha, bah, me motivava bastante.

No fundo eu pensava "que sorte eu só ter primos guris".

Na verdade eu estava ponderando que ter a maioria dos primos meninos me permitiu desde o primeiro círculo social, o familiar, praticar futebol como brincadeira predominante, o que me conferiu certa habilidade na época.

Essa era eu com 9,10,11 e 12 anos.

Depois disso, não preciso dizer que estiquei um pouco e ganhei formatos.

Com 14,15,16 ganhei meu respeito com os guris do ensio médio só porque quando eles me deixaram jogar, viram que eu perto deles, era uma jogadora média - nunca tive o desgosto de ser escolhida por último.

O futebol dos campinhos, do Ensino Médio, futsal, futibas de intervalo,com regras misturadas das variações do futebol e outras outras regras que se cria nas ruas é que me faz em boa parte,quem eu sou hoje – especialmente no quesito motivacional.

Sem nenhum profissionalismo, o futebol de campinho, o amador, de amigos, de colegas, coloca na gente a emoção de craque, eleva a estima no ato do gol, ruboriza as faces no ato do drible perdido e nos eleva à glória no drible bem feito, mostra p’ra gente do que somos capazes - e do que não somos também...srsrr

As práticas de equipe, as brigas, as vitórias, a volta pra casa ao anoitecer, o banho pra exaurir a areia e o cheiro, os amigos, e até o namorico que rolava nos entre-olhares com alguns torcedores, rememoro às vezes, nessas tardinhas de final de expediente, nos meus finais de semana, quando passo naquela empresa que uma vez era o nosso campinho de areia, quando visito aquela amiga que era minha dupla de driblezinhos ensaiados.

Coisas, que só o futibas trás p'ra gente.

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