Inspirada em alguns amigos e histórias. E em outros amigos que eu nem sei. Mas virão para invadir.
Disseram que eu precisava comedir.
Co-medir!
Medir minha forma de ser, entrar, chegar, ficar 
e sair.
Eu juro - bem que tentei.
Tentei, sistema abaixo, indo, indo,
procurando chegar no ideal de ser igual todo 
mundo.
E o que era inteiro eu atorava,
pra ficar no padrão.
E o que não era aceito, eu chorava,
engolia, 
enquadrava, 
e seguia. 
Mas o processo nunca (jamais!) que era natural.
Goela-abaixo mesmo. 
Incomoda sabe.
Acontece que meus olhos nunca mentiram -  
porque insistiam em brilhar para o nada, além 
das linhas-limite do "seja assim".
Então, encontrei ela.
A invasão.
A invasão estava neles.
Eles eram uma invasão porque jamais poderiam 
conter em si uma invasão.
Porque uma invasão é um movimento.
Eles, como eu, estavam desmurados.
Abertos.
Eram descampados.
Des-cercados. (Existe na gramática?...Inventei!)
Sua intensidade era uma barragem à minha frente - à la Mariana, MG.
Arrastão.
Eu sem comportas, era invadida,
mas como também sou enxurrada de lágrimas, 
risos, emoção e entrega, 
ferozmente - e também mansa - misturei-me neles.
Como se desde antes do mundo fôssemos juntos,
uma coisa só.
Essa invasão dela nunca me atormenta,
pelo contrário,
me completa e me alenta (não foi só pra rimar,
é de verdade, é coração que pulsa.)
Ela é sem cerca,
sem muro,
à pampa,
pé na porta,
Eu juro que é assim.
Ela passou na minha casa e me levou junto,
Ah, e sem frescura, 
não tinha cama, 
levamos colchão pelo meio do bairro estudantil 
- "nem aí" na hora, a gente 'tava imersa em 
diálogos, sequer vimos as pessoas.
E conversamos noite adentro,
rindo e chorando,
e rindo de novo,
e eu, derrubando as coisas - que sou 
desastrada.
Uma cama no chão.
A invasão dos inteiros.
Que virou acampamentos dos finais de semana.
Eu vou contigo, tu vem comigo. 
"Fica mais!"
"Não quero ir mesmo"
"Dorme com a gente!"
"Mas não tem cama!"
"Vamos buscar um colchão!"
Até parecem irmãos.
"Há amigo mais chegado que irmão" disse o Provérbio.
Todas as vezes que estamos juntos me sinto 
protegida e pertencente.
Às vezes é muito breve.
Mas é um mergulho breve no tempo que fomos 
crianças, e confiávamos nas pessoas, e tudo que 
tínhamos era nossa família, e ali, não 
precisávamos fingir nada.
A invasão que somos nos fez 
colônia,morada,estada demorada, visita 
prolongada nas nossas boas memórias.
Não importa se não crescemos juntos.
Importam nossas partilhas de pão de queijo, 
lanche da escola (algumas vezes, a falta do 
lanche) e histórias pra contar.
Nossas credenciais para invasão são nossos 
olhos e sorriso- se ambos brilharam ao mesmo 
tempo, é invasão e não tem volta.
 
 
